O assalto – baseado em fatos reais

Era sexta-feira, estava em tempo de quaresma e como todo bom cristão ela não comia carne nas sextas. Mas tinha um churrasco programado com a galera e não podia faltar, não suportaria ficar em casa sexta-feira á noite. Como enrolava bastante Mara foi sozinha para o local marcado. No meio do caminho percebeu que havia dois elementos atrás dela de forma suspeita. Ela estava cansada de andar pelas ruas escuras e desertas da cidade sozinha, afinal não tinha carro ou moto, e suas amigas moravam no Centro da cidade. Ficou com medo, mas achou que fosse apenas coisa da sua cabeça, para despistar tirou o celular do bolso e ligou para um amigo. Conversam pouco e logo desligou. Mas os rapazes continuaram seguindo-a. Após alguns metros ocorreu a abordagem. Um dos rapazes entrou na frente dela e falou:

- Passa o celular, moça!! O celular!!

Ela assustada deu um passo para trás tentando escapar, mas caiu encima do outro que estava atrás dela com sua bicicleta. Cortou a perna na corrente da bicicleta, mas levantou-se correndo segurou fortemente o celular e correu. Gritou por socorro, e os rapazes correram. Largou sapato no meio da rua, mas não teve coragem de chegar. Um segurança aparece ao ouvir seu apelo, deu uma olhada em volta, entregou seu sapato e levou-a até seu destino. Achou que pudesse ser um aviso para não descumprir suas promessas, sexta-feira não é dia de comer carne. Chegou na festinha toda assustada, suja, apavorada, a partir desse dia nunca mais teve coragem de andar sozinha.

- Imaginem só, os meninos estavam noiados, não conseguiram fazer nada comigo. Mas eu podia estar morta agora!

Repetia essa história sempre que possível e fazia todos rirem do quase assalto.

Do outro lado da cidade, dois amigos também se divertiam contando uma história bem parecida.

- Sabe o Paulinho viu a morena sozinha na rua e apaixonou. Andamos atrás dela uma tempão só pra ver se ele tinha coragem de pedir o número do celular da moça. Quando ele finalmente criou coragem, chegou perto e pediu o número do celular a mulher achou que era uma assalto e começou a gritar.

- Pois é, a mina é louca. Caiu encima da bicicleta, perdeu sapato e tudo e ficou gritando “Socorro, querem me roubar, socorrooooo!!”. A gente é feio, pobre, mas é honesto. Eu queria explicar para ela, mas apareceu um segurança gigante para defendê-la. Como pobre não tem vez fomos embora correndo.

No fundo Paulinho ainda suspirava pela morena louca e ficava torcendo para que um dia ela pensasse nele. E ela pensava diariamente, sempre alertando seus amigos, porque a cidade está perigosa.

Não é você, sou eu

A vida em toda sua complexa simplicidade me confronta novamente mostrando que nada faz sentido. Ninguém pode mudar uma pessoa a não ser ela mesma. Por isso amigo, digo e afirmo da forma mais clichê possível: não é você sou eu. Sou eu que por não saber quem sou acabo complicando tudo e todos. Não é você que não se sente a vontade em todos os lugares, não é você que perde momentos incríveis ancorada em uma timidez massacrante. Não é você que se irrita facilmente, que chora quando está de tpm, que grita sem querer, maltrata sem sentir. Não é você que vive a sombra de paranóias, insegurança.Não é você, sou eu, insisto. Ninguém pode viver tentando adivinhar como fazer o outro feliz ou evitar a tristeza, mesmo que isso seja missão masculina, é impossível. Portanto querido sentirei sua falta quando ligar a tv e ver o anúncio de um filme que assistimos juntos. Imagino que vai doer durante muito tempo, afinal você que comanda meu repertório, presença confirmada em todas as músicas. Vai doer sair na rua, ficar em casa, comer, respirar, dormir, sonhar. Vou sofrer quando estiver no supermercado, na igreja na praça, na escola do meu filho e ver um casal se abraçando. Lembrarei de quando estava em seus braços, seus abraços seu carinho. Mas tem um clichê comandando minha vida agora sabe. Preciso descobrir quem sou e aprender a conviver comigo mesma, experiência conturbadora pelo fato que me odeio. Por isso mesmo, nesse momento amor preciso da solidão. Lembre-se , não é você, sou eu.

Jornal

Hoje eu quero ser feliz e esquecer meus medos, e como diz a rainha dos baixinhos: só quero boas notícias. Chega de jornal, desligue essa TV. Vamos ser felizes por um momento. Não quero saber de estupros, pedofilia, roubos, assassinatos, acidentes, não, não, hoje não, quero fugir dessas histórias que só mostram a escassez do respeito. Hoje quero uma conversa mais agradável. Falar de escola, time de futebol, Dragon Baal Z, Hora de Aventura, Ben 10 e outros desenhos estranhos. Ouvir você falar que não vai pra escola de calça por que os coleguinhas acharam que estava tentando conquistar a menina mais linda do colégio. Escutar enfim a palavra mais doce do mundo: Mãe. Contar que a professora falou que você está lendo muito bem e que seu time ganhou o jogo. Ficar inchada de alegria ao te escutar.

- Sabe mãe...

Ele vem quase engolindo as palavras, tem muita coisa para falar. E passa a noite toda tagarelando, as melhores noticias de todas. Quem precisa de jornal com um repórter mirim em casa, catalogando desesperadamente os episódios mais inusitados.